Moana é uma garota linda, vibrante e com a avidez por descobertas típica de uma adolescente normal. Ela mora em uma ilha paradisíaca, tem pais amorosos e uma comunidade acolhedora e unida. Desfruta do melhor que a natureza oferece, mas sente que falta algo em sua vida, uma compulsão por explorar, viajar, ir além de si mesma. Impossível não associar com o mito da caverna de Platão: para quem está na caverna, a caverna é tudo o que existe. Mas Moana sabia que podia ir além e ela queria isso. Quem nunca sonhou em ultrapassar aqueles limites que a sociedade, a família ou até você mesma fixou para si?
O filme é encantador, mais uma vez a Disney nos presenteia com uma personagem fora do clichê convencional da princesa que tem por único objetivo na vida se casar com um príncipe. Mas o que realmente chamou minha atenção, foi a profunda mensagem sobre sororidade que é tema de fundo de toda a História de Moana. Sororidade é um termo que popularizou com o advento da exposição feminista que vem ocorrendo nos últimos anos e que significa união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Particularmente, eu amo essa palavra e seus sinônimos e tenho procurado viver por ela.
O primeiro exemplo dessa sororidade, é representado pela avó de Moana. Ela viu que a neta ansiava por mais e confiava na sua capacidade de conquistar seu objetivo. Desde cedo, foi o apoio e principal agente influenciadora de Moana. Foi dela a ordem "vai" que levou Moana de encontro ao seu destino. E mesmo depois que morreu, a avó de Moana continuou influenciando sua neta, "estarei sempre com você", remetendo à idéia que somos construídas também com a nossa ancestralidade. Somos a soma das mulheres que vieram antes de nós, carregamos no DNA sua força e sabedoria e podemos aprender com seus erros e acertos.
O segundo exemplo, é a mãe de Moana. Quando flagrou a filha arrumando sua mala para fugir em busca de si mesma, ela deu seu consentimento silencioso, apenas se retirando do caminho e deixando Moana livre para ir. Ela poderia ter chamado os guerreiros da tribo, avisado o pai da garota, porém, mais uma vez, o elo de empatia e cumplicidade foi mais forte. Quando deixou Moana livre para seguir seu próprio caminho, essa mãe entendeu que os filhos não precisam, necessariamente, trilhar o mesmo caminho dos pais.
Moana foi, e o resto é história. Com muita coragem e teimosia, foi vencendo os obstáculos pelo caminho, um a um. Interessante notar que os dois semi deuses que ela encontrou pelo caminho, Maui e Tamatoa, foram vencidos não pela força, mas pela esperteza. Coincidência ou não, os dois se apresentam na história como seres egoístas, vaidosos e absolutamente egocêntricos e Moana usa de suas próprias armas para derrotá-los.
E, por fim, a história atinge seu clímax quando Moana descobre que o monstro de lava Te Ka, é a versão ferida da deusa Te Fiti, que se transformou na criatura quando teve seu coração roubado por Maui. Te Fiti não era um monstro, ela só estava ferida. E o terrível monstro desaparece quando Moana devolve o coração ao seu peito, nos deliciando com a mensagem mais linda de todas: MULHER CURA MULHER.
SIM, manas, temos essa incrível habilidade. Só uma mulher compreende os caminhos do coração da outra, porque é a mesma estrada que todas trilhamos.
Somos conforto, nutrição, cuidado, acolhimento. A ordem certa, é primeiro para nós mesmas, depois para o próximo. Cientes dessa habilidade, usemos uma com as outras. Sejamos instrumentos de cura. Não alimentemos mitos que "mulher é fogo", "mulher compete e rivaliza umas com as outras", e pratiquemos a sororidade. Se colocar no lugar da outra, às vezes, é o melhor caminho para se chegar dentro de si.
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